quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Contrato

Objecto:Reconhecimento, em consciência clara de que a outra parte é um ser diferente de nós, com existência própria. Árduo trabalho de negociação em que duas pessoas independentes e autónomas seleccionam, mais consciente ou mais inconscientemente, as respectivas características e compatibilidades capazes de fazer funcionar uma relação.

Marta Claro Marques

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Silêncio...

Já se sabe que, se a palavra é de prata, o silêncio é de ouro. O silêncio é plural, desdobra-se em sentidos, para os quais são necessários atenção, subtileza e interesse.
Tão focados no saber dizer, tão preocupados com o sermos simpáticos ou parecermos inteligentes através do que dizemos, desprezamos a importância dos silêncios que nós, e os outros, recorremos constantemente. A maioria das vezes achamos que o silêcio é uma mera pausa comunicacional, uma forma de pontuar o discurso, de terminar um assunto e partir para outro.
Mas há qualidades muito diferentes no silêncio...
Há silêncios inibidos, cheios de dúvidas, envergonhados e temerosos.
Há silêncios expectantes, em que se espera o que vem a seguir e se segue passo a passo o raciocínio do outro.
Há silêncios interrogativos, em que quase se vê as mil perguntas por articular.
Há silêncios tensos, em que o clima de zanga ou irritação desce e paira no ar como se a próxima palavra iniciasse uma imensa discussão.
Há silêncios tranquilos, em que nada se diz porque nada há de relevante para dizer, sem que isso questione a comunicação ou a própria relação.
Há silêncios defensivos, que parece quem têm sobrolhos carregados e sete pedras ali mesmo à espera de serem atiradas.
Há silêncios regressivos, em que o tempo actual se congela e o que emerge como emoção vem de lugares recônditos da memória.
Há silêncios reflexivos, que servem de momento de encontro entre ideias e sensações até aí dispersas e imprecisas.
Há silêncios cheios de plenitude e de partilha, em que qualquer palavra é redundante e desnecessária.
Há os silêncios penitentes, os silêncios amuados, os silêncios raivosos, os silêncios críticos e deve haver muitos outros silêncios que eu não sei, porque não os sinto ou não os conheço.

A grande dificuldade do silêncio é a mesma que preside em todos os exercícios de contenção. Quanto mais importante achamos o silêncio e a contenção da ansiedade que lhe está associada, mais corremos o risco de...sermos tão partidários da disciplina do silêncio que podemos passar horas a falar dela.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Estado suis generis...




Isto de ser capaz de se fazer desejar, querer alguém ou algo, sem mais nem porquê, não é de todo um dado fácil de digerir.
Parece-me definitivamente injusto, entre o truque e a magia, o logro e a ilusão, que haja quem, só porque sim, seja um objecto de interesse e devoção sistemático.
Não sei bem porquê, mas a dada altura, resolveu-se considerar que a capacidade de uns tantos se fazerem amar era uma mais-valia, que por isso, se devia descodificar, aprender e ensinar.
Resolveu-se, e passou-se a tomar-se essa resolução como verdade, que a beleza, a inteligência, o humor, a riqueza, ou qualquer outro atributi raro e invulgar, eram uma espécie de garante de interesses do meio envolvente. Que havia uns tantos atributos melhores que muitos outros e capazes de suscitar sentimentos de insaciável e constante interesse. Que possuir isso, fosse lá o que fosse, exercia fascínio sobre outros, os amaciava suficientemente para serem vulneráveis a influências e a alterações de comportamento.
Decidiu-se que essa caracteristica incomum bem se podia chamar de sedução e que uns poucos eram os sedutores e os outros todos, coitados, os seduzidos.
Afirmou-se a sedução como uma espécie de atracção fatal, os sedutores como vilões cheios de charme e os seduzidos como ingénuos, incautos e desprecavidos tropeçando em quem, só por desporto, sentia prazer, no exercício desse dom raro de inpirar paixão.
Pode ser que assim seja. Que haja sedurtores e seduzidos, bons e maus, bonitos e feios, verdadeiros e mentirosos e mais uma data de pares antitéticos, redutores e simplistas.
Pode ser.
Tenho no entanto para mim, que a relação entre sedutor e seduzido é como a que o velho Nietzche afirmava: "Atrais-me , mas não tens força para me prender".
O que não temos, o que não somos, o que espanta pela raridade e fascina pela perfeição, torna-se, à posteriori, numa trivialidade.
Habituamo-nos com excessiva facilidade ao que nos acontece e cruelmente, como só nós seres humanos sabemos ser, desprezamos o que desejávamos, desvalorizamos o que nos fez sonhar e fazemos pagar com língua de palmo os jogos de gato e rato que a luxúria à solta um dia nos fez jogar.
Deve ser por issoque os grandes sedutores são habitualmente tão infelizes e queixosos dos coitados dos seduzidos.