terça-feira, 6 de janeiro de 2009
Estado suis generis...
Isto de ser capaz de se fazer desejar, querer alguém ou algo, sem mais nem porquê, não é de todo um dado fácil de digerir.
Parece-me definitivamente injusto, entre o truque e a magia, o logro e a ilusão, que haja quem, só porque sim, seja um objecto de interesse e devoção sistemático.
Não sei bem porquê, mas a dada altura, resolveu-se considerar que a capacidade de uns tantos se fazerem amar era uma mais-valia, que por isso, se devia descodificar, aprender e ensinar.
Resolveu-se, e passou-se a tomar-se essa resolução como verdade, que a beleza, a inteligência, o humor, a riqueza, ou qualquer outro atributi raro e invulgar, eram uma espécie de garante de interesses do meio envolvente. Que havia uns tantos atributos melhores que muitos outros e capazes de suscitar sentimentos de insaciável e constante interesse. Que possuir isso, fosse lá o que fosse, exercia fascínio sobre outros, os amaciava suficientemente para serem vulneráveis a influências e a alterações de comportamento.
Decidiu-se que essa caracteristica incomum bem se podia chamar de sedução e que uns poucos eram os sedutores e os outros todos, coitados, os seduzidos.
Afirmou-se a sedução como uma espécie de atracção fatal, os sedutores como vilões cheios de charme e os seduzidos como ingénuos, incautos e desprecavidos tropeçando em quem, só por desporto, sentia prazer, no exercício desse dom raro de inpirar paixão.
Pode ser que assim seja. Que haja sedurtores e seduzidos, bons e maus, bonitos e feios, verdadeiros e mentirosos e mais uma data de pares antitéticos, redutores e simplistas.
Pode ser.
Tenho no entanto para mim, que a relação entre sedutor e seduzido é como a que o velho Nietzche afirmava: "Atrais-me , mas não tens força para me prender".
O que não temos, o que não somos, o que espanta pela raridade e fascina pela perfeição, torna-se, à posteriori, numa trivialidade.
Habituamo-nos com excessiva facilidade ao que nos acontece e cruelmente, como só nós seres humanos sabemos ser, desprezamos o que desejávamos, desvalorizamos o que nos fez sonhar e fazemos pagar com língua de palmo os jogos de gato e rato que a luxúria à solta um dia nos fez jogar.
Deve ser por issoque os grandes sedutores são habitualmente tão infelizes e queixosos dos coitados dos seduzidos.
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