segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Silêncio...

Já se sabe que, se a palavra é de prata, o silêncio é de ouro. O silêncio é plural, desdobra-se em sentidos, para os quais são necessários atenção, subtileza e interesse.
Tão focados no saber dizer, tão preocupados com o sermos simpáticos ou parecermos inteligentes através do que dizemos, desprezamos a importância dos silêncios que nós, e os outros, recorremos constantemente. A maioria das vezes achamos que o silêcio é uma mera pausa comunicacional, uma forma de pontuar o discurso, de terminar um assunto e partir para outro.
Mas há qualidades muito diferentes no silêncio...
Há silêncios inibidos, cheios de dúvidas, envergonhados e temerosos.
Há silêncios expectantes, em que se espera o que vem a seguir e se segue passo a passo o raciocínio do outro.
Há silêncios interrogativos, em que quase se vê as mil perguntas por articular.
Há silêncios tensos, em que o clima de zanga ou irritação desce e paira no ar como se a próxima palavra iniciasse uma imensa discussão.
Há silêncios tranquilos, em que nada se diz porque nada há de relevante para dizer, sem que isso questione a comunicação ou a própria relação.
Há silêncios defensivos, que parece quem têm sobrolhos carregados e sete pedras ali mesmo à espera de serem atiradas.
Há silêncios regressivos, em que o tempo actual se congela e o que emerge como emoção vem de lugares recônditos da memória.
Há silêncios reflexivos, que servem de momento de encontro entre ideias e sensações até aí dispersas e imprecisas.
Há silêncios cheios de plenitude e de partilha, em que qualquer palavra é redundante e desnecessária.
Há os silêncios penitentes, os silêncios amuados, os silêncios raivosos, os silêncios críticos e deve haver muitos outros silêncios que eu não sei, porque não os sinto ou não os conheço.

A grande dificuldade do silêncio é a mesma que preside em todos os exercícios de contenção. Quanto mais importante achamos o silêncio e a contenção da ansiedade que lhe está associada, mais corremos o risco de...sermos tão partidários da disciplina do silêncio que podemos passar horas a falar dela.

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